Abstrato Cultural - SNAC ExNEL
quinta-feira, 25 de março de 2010
O Varal -
Video-Conto: O Varal
Ano: 2008
Duração: 00:02:09
Roteiro: Maíra Viana
Direção: Marcos Farion
Interpretação: Rober Tosta
Trilha Sonora: Fernando Anitelli
Produção Geral: Maíra Viana
terça-feira, 23 de março de 2010
DIVULGAÇÃO DE EDITAL SOBRE LITERATURA
O programa está dividido em duas categorias:
1. Produção Literária, para projetos de ensaio que tratem de um tema relativo à produção literária brasileira a partir do início dos anos 1980.
2. Crítica Literária, para projetos de ensaio sobre a produção crítica na literatura brasileira realizada a partir do início dos anos 1980.
segunda-feira, 22 de março de 2010
Muitos em Um
Nem o ébano, de Paulinho Rezende;
Nem o menino vadio, nem o guri, de Chico;
Nem o menino do rio e o namorado, de Caetano.
Só você,
Que me olha com seus olhinhos infantis.
Nem os meninos de Renato Russo;
Nem o homem belo, de Cazuza;
Nem o veado, de Gil;
Nem o leãozinho, do baiano.
Só você,
Que é o milagre após as mil lágrimas.
Nem o nature boy, de Eden Ahbez;
Nem o pozinho, de Zeca Baleiro;
Nem o Rubens, de Mário Manga;
Nem o super-homem, de Gilberto.
Só você,
Que é meu ioiô e meu-bem-querer.
Não me interessa mais a paixão de Aquiles e Pátroclo;
Nem a de Zeus e Ganimedes;
Nem a de Alexandre e Hefestião;
Nem a de Sebastião e Diocleciano.
Só você,
Com quem não temo as tempestades.
Nem a de Verlaine e Rimbaud;
Nem a de Ginsberg e Orlovsky;
Nem a de Wilde e Douglas;
Nem mesmo a dúvida de Jesus e João.
Só você,
Com quem divido toda a indiscrição do amor.
Nem a delicada relação daqueles;
Nem a delicada atração de outros;
Nem a C.R.A.Z.Y. paixão de alguns;
Nem mesmo o amor de Twist e Del Mar.
Só você,
Que me conferiu a lei do desejo.
Você é meu caso com a vida;
É a cidade dos sonhos;
É meu querido companheiro;
É meu garoto de programa;
Só você,
Que me faz debruçar sobre todas as coisas.
Não me atrai o poder de Magno, o imperador;
Nem os lolitos e os desejos da Magazine, ou de Corbin Fisher;
Nem o David de Michelangelo;
Nem o brilho da estrela pura aparecida.
Só você,
Com teu pau pelo meu (bússola e desorientação).
Nem a literatura de Abreu;
Nem o amor ambíguo de Riobaldo;
Nem as incertezas de Maurice;
Nem mesmo o tesão do Bom Criolo.
Só você,
Piá, guri, curumim... os gatos todos em um.
Com você eu enfrento as brasas do Papa;
O Stonewall;
O breu;
Tudo ou nada.
Só você,
Que nem você ninguém mais pode haver.
por Leonardo Davino (Paródia-homenagem homoerótica sobre letra "Todas Elas juntas num só ser", de Lenine e Carlos Rennó)
Literatura Homoerótica
A maioria dos estudiosos sobre o assunto concorda que o Brasil iniciou-se no campo da literatura homoerótica com Bom-Crioulo (1895), do cearense Adolfo Caminha. Desde então, apesar das severas críticas de alguns segmentos da sociedade e das rejeições do mercado editorial, fazem parte da produção literária brasileira, textos gays e lésbicos.
Isso se intensifica nas idéias e pensamentos libertários da contracultura dos anos 60/70, mas é a partir das décadas de 80/90, quando a “homossexualidade” deixa de ser considerada doença, pelo Conselho Federal de Medicina, com a luta dos movimentos gay-lésbicos, em defesa dos diretos destes, que acontece o impulso para a propagação dessa literatura.
Foucault, ao tratar desse assunto em Um diálogo sobre os prazeres do sexo, afirma que com o repúdio da cultura cristã sobre o homoerotismo, a literatura homoerótica “concentra sua energia no próprio ato sexual”, pois não se permitiu ao indivíduo homoeroticamente inclinado elaborar um sistema de corte, “uma vez que lhes foi negada a expressão cultural necessária a essa elaboração”. Já Jurandir Costa Freire, em A inocência e o vício, diz que “a AIDS realçou definitivamente o arcaísmo cultural da noção de homossexualidade”, mas certamente também marcou a proliferação de escritos sobre o tema.
E Severo Sarduy, em “O Barroco e o Neobarroco”, leva-nos a concluir que o erotismo praticado pelos indivíduos homoeroticamente inclinados é um símbolo do jogo com o objeto perdido, haja vista a violação da finalidade, estabelecida pela visão clássica (judaico-cristã), para os corpos. Desse modo, o erotismo praticado pelos gays afirma uma incerteza, abrindo espaço para a contradição com os padrões da “normalidade” estabelecida.
A presença da temática homoerótica na literatura brasileira é bastante forte: Glauco Mattoso, Caio Fernando Abreu, Raul Pompéia, Valdo Mota, Roberto Piva... Sem esquecermos os inúmeros poemas e contos gays (muitos de qualidade duvidosa, como em qualquer tipo de literatura) que saltitam o tempo todo, tanto em sites direcionados ao público gay, ou não.
Por fim, acredito que é importante saber como a arte pode contribuir para uma visão mais sutil das relações afetivas entre “iguais” e como a discussão sobre o homoerotismo pode contribuir na compreensão da arte contemporânea.
(retirado do blog do Leonardo Davino. Paraioca "PB/RJ", mestre em Literatura Brasileira, com pesquisa de doutorado sobre Canção e Teoria da Literatura.)
segunda-feira, 15 de março de 2010
Mulata Exportação
“Mas que nega linda
E de olho verde ainda
Olho de veneno e açúcar!
Vem nega, vem ser minha desculpa
Vem que aqui dentro ainda te cabe
Vem ser meu álibi, minha bela conduta
Vem, nega exportação, vem meu pão de açúcar!
(Monto casa procê mas ninguém pode saber, entendeu meu dendê?)
Minha tonteira minha história contundida
Minha memória confundida, meu futebol, entendeu meu gelol?
Rebola bem meu bem-querer, sou seu improviso, seu karaoquê;
Vem nega, sem eu ter que fazer nada. Vem sem ter que me mexer
Em mim tu esqueces tarefas, favelas, senzalas, nada mais vai doer.
Sinto cheiro docê, meu maculelê, vem nega, me ama, me colore
Vem ser meu folclore, vem ser minha tese sobre nego malê.
Vem, nega, vem me arrasar, depois te levo pra gente sambar.”
Imaginem: Ouvi tudo isso sem calma e sem dor.
Já preso esse ex-feitor, eu disse: “Seu delegado...”
E o delegado piscou.
Falei com o juiz, o juiz se insinuou e decretou pequena pena
com cela especial por ser esse branco intelectual...
Eu disse: “Seu Juiz, não adianta! Opressão, Barbaridade, Genocídio
nada disso se cura trepando com uma escura!”
Ó minha máxima lei, deixai de asneira
Não vai ser um branco mal resolvido
que vai libertar uma negra:
Esse branco ardido está fadado
porque não é com lábia de pseudo-oprimido
que vai aliviar seu passado.
Olha aqui meu senhor:
Eu me lembro da senzala
e tu te lembras da Casa-Grande
e vamos juntos escrever sinceramente outra história
Digo, repito e não minto:
Vamos passar essa verdade a limpo
porque não é dançando samba
que eu te redimo ou te acredito:
Vê se te afasta, não invista, não insista!
Meu nojo!
Meu engodo cultural!
Minha lavagem de lata!
Porque deixar de ser racista, meu amor,
não é comer uma mulata!
De Elisa Lucinda (Da série “Brasil, meu espartilho”)